Júlio Filipe Neto de Almeida Carrapato
(Faro, 19/7/1947 – 2016)
Filho de Júlio Filipe de Almeida Carrapato, oposicionista algarvio, que foi Governador Civil de Faro entre 22 de Outubro de 1975 e 14 de Fevereiro de 1980.e de Lucília Teresa de Jesus Brito Mascarenhas Neto de Almeida Carrapato.
Ainda adolescente publicou vários livros de poemas entre 1964 e 1966 ( Zagala, 1964; História de um clã , 1965; Tempo de alquimia, 1966), porém, “aos 19 anos (…) mandei a lira para as urtigas”.
Após terminar o ensino liceal, veio para Lisboa onde foi aluno da Faculdade de Direito. Em breve, envolveu-se nas lutas estudantis. Em Janeiro de 1965, é preso na sequência dos acontecimentos do “Dia da Universidade”, por distribuir panfletos (A Universidade está de luto – Liberdade para os estudantes presos, Harmonia corporativa – Dia 21 – 30 estudantes presos – Dia 22 – Festa na Universidade.). Em 1 de Abril do mesmo ano, participa nos conflitos na Cantina Universitária, o que lhe motiva uma pena de suspensão de 40 dias (despacho MEN, 15 de Outubro de 1965) .
Muda então para Coimbra para continuar os seus estudos de Direito, tendo residido na “República dos Milionários”. No início de 1968. é preso a pedido da PJ de Lisboa, devido a presumíveis contactos com elementos da LUAR, então perseguidos intensamente devido ao assalto ao Banco de Portugal. Esteve preso cerca de 20 dias após o que é libertado.
Várias informações chegam à PIDE sobre o seu activismo estudantil, pelo que resolveu partir clandestinamente para França, onde chega a tempo de participar no Maio de 1968. Estuda na Universidade de Paris tendo tirado a licenciatura em Ciências Politicas e Sociologia.
Vai para o Brasil onde esteve 3 anos a dar aulas. É no Brasil que recebe “com surpresa” a notícia do 25 de Abril. Decide então regressar.
À data do 25 de Abril, Júlio Carrapato era já ideologicamente anarquista, contrariando a dominação das várias variantes do comunismo na experiência radical da sua geração. Aliás, já em Coimbra era apontado como aquela excepção “era anarquista“. Por isso, no seu regresso a Portugal contactou os núcleos e as pessoas que tinham mantido a continuidade com o antigo movimento anarquista e anarco-sindicalista, então bastante mais velhos do que ele.
“aos homens e mulheres que conheci na sede da Rua Angelina Vidal, em Lisboa, metendo ombros a empreitada de relançamento do A Batalha; a quantos conheci em Almada, no Centro de Cultura Libertária, editando a Voz Anarquista; ou aos que encontrei no Porto, Coimbra, Évora ou no Algarve, ao sabor da deriva revolucionaria, animados por outros projectos. Eram eles Adriano Botelho, Emídio Santana, José Correia Pires, Reis Sequeira, José de Brito, Barreto Atalaião, Sebastião de Almeida, Artur Modesto, Jorge Quaresma, Francisco Quintal, Luísa Adão, José Bernardo, Abílio Gonçalves, Acácio Tomas de Aquino, José Francisco, Joaquim Pedro, Custódio da Costa, Elias Matias, José Paulo Lola, António Machado e alguns mais. Maioritariamente na casa dos 60 ou 70 anos; alguns, como Adriano Botelho, já tinham contudo afoitamente transposto a barreira dos 80. Constituam 0 que poderíamos chamar a velha guarda confederal e libertária”
O outro elo de ligação era constituído por gente como
Moisés da Silva Ramos, Irene Nóbrega Quintal ou Lígia Oliveira estariam na casa dos 40 ou 50 anos, em 1974. Depois, vinham Os que como Gabriel Morato Pereira, António Mota, Rui Vaz de Carvalho, Jorge Mota Prego, Paulo Ferreira, Carlos Pimpão, António Alvão Carvalho, Artur Pinto, além do autor destas linhas, tinham entre 20 e 30 anos; após que se seguiam alguns jovens operários e rapazes dos liceus, como Vítor Sobral, Fabiâo ou José Tavares,
Participa na manifestação de 3 de Marco de 1975, contra o Pacto Ibérico e de solidariedade com os trabalhadores espanhóis, que considerava a “única claramente antinilitarista que se fez no Portugal pós-fascista, na qual se gritou: -as soldados são filhos do povo, Os generais são filhos da puta“, e no assalto à embaixada de Espanha,
Participa na Associação de Grupos Autónomos Anarquistas, e no grupo “Acção Directa” e em periódicos como a Acção Directa, Meridional ou Antítese,
Foi depois dar aulas para a Universidade de Évora, onde participou no grupo “Apoio Mútuo”, mas ficou
“Bastante decepcionado com a actividade docente, o espirito académico e as possibilidades duma intervenção eficaz e criadora, [e por issso] também pendurei o ensino no bengaleiro.”
Regressa então a Faro onde abre em 1978 uma livraria e funda as Edições Sotavento. Dedica-se a uma actividade intensa como autor, tradutor e editor. Traduz o Ladrão de Georges Darien, com prefácio seu e notas (Sotavento, 1979), o Relatório secreto de Nikita Kruchtchev ao XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (texto integral) : autópsia do stalinismo com as notas de A. Rossi ; (Sotavento. 1981), de Abel Paz, O povo em armas : Buenaventura Durruti e o anarquismo espanhol, Do anarquismo, de Nicolas Waiter, o Dialog0 entre Marx e Bakunine, de Maurice Cranston (2001), e as Doze provas da não existência de Deus, de Sébastien Faure (2001) e com o título de Democracia Ou anarquismo?, (2001) a polémica entre Francesco Saverno Merlino e Errico Malatesta.
Como autor teve os seus textos do Meridional entre de Abril de 1978 a Abril de 1979 publicados na Centelha sob o título de
Uma campanha de salubridade ou a crítica da ideologia do conformismo ( 1984).
Na Sotavento publicou a
Resposta de um anarquista aos últimos moicanos do marxismo e do leninismo, assim como aos inúmeros pintaínhos da democracia (1991),
Os descobrimentos portugueses e espanhóis ou a outra versão de uma história mal contada (1992) ,
Uma história de figurões e figurantes : “de caras”, com Álvaro Cunhal, José Eduardo Moniz e alguns mais… (1993).
Crónicas de escárnio e boa disposição (2003).
Subsídios para a reposição da verdade sobre a guerra civil de Espanha (2007),
Resposta bem humorada ao Professor Doutor João Freire (2007),
Para uma crítica libertária do direito / A lei e a autoridade / Piotr Kropotkine. (2008).
O regicídio, o 5 de Outubro de 1910, a I República portuguesa e a intervenção anarquista (2011).
Subsidios Para a Reposição da Verdade sobre a Guerra Civil de Espanha.
Novas Crónicas Bem Dispostas.
A Kate Sharpley Library publicou The Almost Perfect Crime: The Misrepresentation of Portuguese Anarchism.
Em 1982 funda uma editora Foco Editora especializada em livros regionalistas, em que publicou também uma antologia das obras de seu pai.
O papel de Júlio Carrapato como propagandista do anarquismo e como polemista torna-o uma das figuras mais importantes da nova fase do anarquismo português pós-25 de Abril.
No ARQUIVO / BIBLIOTECA existem os livros todos de Júlio Carrapato, com excepção dos de poesia, e colecções de várias publicações anarquistas em que participou. À medida que outras forem publicadas (como o Meridional, pe.) novas ligações serão acrescentadas.
São bem vindas quaisquer outras informações sobre a vida e a obra de Júlio Carrapato.
FONTES:
ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO
PIDE/DGS, PC 824/64, NT 5722
PIDE/DGS, 15/68, NT 5985
PIDE/DGS, BOL 598276, NT 8471
PIDE/DGS, P INF 1101-F4 – NÃO LOCALIZADO
PIDE/DGS, CI (2) 4640, NT 7363 – NÃO VAI À LEITURA – EXPURGADO NA TOTALIDADE
PIDE/DGS, RGP 27950, NT LIVRO 140
PIDE/DGS, PI 37974, NT 4874
PIDE/DGS, REG 11/68 – VISTO – SEM INTERESSE
PIDE/DGS, SR 809, NT 10449 (Carta de Carrapato dirigida à «Vértice»)
PIDE/DGS, E/GT 2861, NT 1481
PIDE/DGS, P IND 37974, NT 4874 (DEL COIMBRA)
PIDE/DGS, SR 2714/64, NT 3420
FONTES IMPRESSAS:
“Morreu o anarquista algarvio Júlio Carrapato, cidadão do mundo”, A Batalha, 270, Maio-Junho 2016.
– Tal &Qual, 16/8/91
– Portal Anarquista
https://ephemerajpp.com/2016/08/09/julio-carrapato-1947-2016/
(Faro, 19/7/1947 – 2016)
Filho de Júlio Filipe de Almeida Carrapato, oposicionista algarvio, que foi Governador Civil de Faro entre 22 de Outubro de 1975 e 14 de Fevereiro de 1980.e de Lucília Teresa de Jesus Brito Mascarenhas Neto de Almeida Carrapato.
Ainda adolescente publicou vários livros de poemas entre 1964 e 1966 ( Zagala, 1964; História de um clã , 1965; Tempo de alquimia, 1966), porém, “aos 19 anos (…) mandei a lira para as urtigas”.
Após terminar o ensino liceal, veio para Lisboa onde foi aluno da Faculdade de Direito. Em breve, envolveu-se nas lutas estudantis. Em Janeiro de 1965, é preso na sequência dos acontecimentos do “Dia da Universidade”, por distribuir panfletos (A Universidade está de luto – Liberdade para os estudantes presos, Harmonia corporativa – Dia 21 – 30 estudantes presos – Dia 22 – Festa na Universidade.). Em 1 de Abril do mesmo ano, participa nos conflitos na Cantina Universitária, o que lhe motiva uma pena de suspensão de 40 dias (despacho MEN, 15 de Outubro de 1965) .
Muda então para Coimbra para continuar os seus estudos de Direito, tendo residido na “República dos Milionários”. No início de 1968. é preso a pedido da PJ de Lisboa, devido a presumíveis contactos com elementos da LUAR, então perseguidos intensamente devido ao assalto ao Banco de Portugal. Esteve preso cerca de 20 dias após o que é libertado.
Várias informações chegam à PIDE sobre o seu activismo estudantil, pelo que resolveu partir clandestinamente para França, onde chega a tempo de participar no Maio de 1968. Estuda na Universidade de Paris tendo tirado a licenciatura em Ciências Politicas e Sociologia.
Vai para o Brasil onde esteve 3 anos a dar aulas. É no Brasil que recebe “com surpresa” a notícia do 25 de Abril. Decide então regressar.
À data do 25 de Abril, Júlio Carrapato era já ideologicamente anarquista, contrariando a dominação das várias variantes do comunismo na experiência radical da sua geração. Aliás, já em Coimbra era apontado como aquela excepção “era anarquista“. Por isso, no seu regresso a Portugal contactou os núcleos e as pessoas que tinham mantido a continuidade com o antigo movimento anarquista e anarco-sindicalista, então bastante mais velhos do que ele.
“aos homens e mulheres que conheci na sede da Rua Angelina Vidal, em Lisboa, metendo ombros a empreitada de relançamento do A Batalha; a quantos conheci em Almada, no Centro de Cultura Libertária, editando a Voz Anarquista; ou aos que encontrei no Porto, Coimbra, Évora ou no Algarve, ao sabor da deriva revolucionaria, animados por outros projectos. Eram eles Adriano Botelho, Emídio Santana, José Correia Pires, Reis Sequeira, José de Brito, Barreto Atalaião, Sebastião de Almeida, Artur Modesto, Jorge Quaresma, Francisco Quintal, Luísa Adão, José Bernardo, Abílio Gonçalves, Acácio Tomas de Aquino, José Francisco, Joaquim Pedro, Custódio da Costa, Elias Matias, José Paulo Lola, António Machado e alguns mais. Maioritariamente na casa dos 60 ou 70 anos; alguns, como Adriano Botelho, já tinham contudo afoitamente transposto a barreira dos 80. Constituam 0 que poderíamos chamar a velha guarda confederal e libertária”
O outro elo de ligação era constituído por gente como
Moisés da Silva Ramos, Irene Nóbrega Quintal ou Lígia Oliveira estariam na casa dos 40 ou 50 anos, em 1974. Depois, vinham Os que como Gabriel Morato Pereira, António Mota, Rui Vaz de Carvalho, Jorge Mota Prego, Paulo Ferreira, Carlos Pimpão, António Alvão Carvalho, Artur Pinto, além do autor destas linhas, tinham entre 20 e 30 anos; após que se seguiam alguns jovens operários e rapazes dos liceus, como Vítor Sobral, Fabiâo ou José Tavares,
Participa na manifestação de 3 de Marco de 1975, contra o Pacto Ibérico e de solidariedade com os trabalhadores espanhóis, que considerava a “única claramente antinilitarista que se fez no Portugal pós-fascista, na qual se gritou: -as soldados são filhos do povo, Os generais são filhos da puta“, e no assalto à embaixada de Espanha,
Participa na Associação de Grupos Autónomos Anarquistas, e no grupo “Acção Directa” e em periódicos como a Acção Directa, Meridional ou Antítese,
Foi depois dar aulas para a Universidade de Évora, onde participou no grupo “Apoio Mútuo”, mas ficou
“Bastante decepcionado com a actividade docente, o espirito académico e as possibilidades duma intervenção eficaz e criadora, [e por issso] também pendurei o ensino no bengaleiro.”
Regressa então a Faro onde abre em 1978 uma livraria e funda as Edições Sotavento. Dedica-se a uma actividade intensa como autor, tradutor e editor. Traduz o Ladrão de Georges Darien, com prefácio seu e notas (Sotavento, 1979), o Relatório secreto de Nikita Kruchtchev ao XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (texto integral) : autópsia do stalinismo com as notas de A. Rossi ; (Sotavento. 1981), de Abel Paz, O povo em armas : Buenaventura Durruti e o anarquismo espanhol, Do anarquismo, de Nicolas Waiter, o Dialog0 entre Marx e Bakunine, de Maurice Cranston (2001), e as Doze provas da não existência de Deus, de Sébastien Faure (2001) e com o título de Democracia Ou anarquismo?, (2001) a polémica entre Francesco Saverno Merlino e Errico Malatesta.
Como autor teve os seus textos do Meridional entre de Abril de 1978 a Abril de 1979 publicados na Centelha sob o título de
Uma campanha de salubridade ou a crítica da ideologia do conformismo ( 1984).
Na Sotavento publicou a
Resposta de um anarquista aos últimos moicanos do marxismo e do leninismo, assim como aos inúmeros pintaínhos da democracia (1991),
Os descobrimentos portugueses e espanhóis ou a outra versão de uma história mal contada (1992) ,
Uma história de figurões e figurantes : “de caras”, com Álvaro Cunhal, José Eduardo Moniz e alguns mais… (1993).
Crónicas de escárnio e boa disposição (2003).
Subsídios para a reposição da verdade sobre a guerra civil de Espanha (2007),
Resposta bem humorada ao Professor Doutor João Freire (2007),
Para uma crítica libertária do direito / A lei e a autoridade / Piotr Kropotkine. (2008).
O regicídio, o 5 de Outubro de 1910, a I República portuguesa e a intervenção anarquista (2011).
Subsidios Para a Reposição da Verdade sobre a Guerra Civil de Espanha.
Novas Crónicas Bem Dispostas.
A Kate Sharpley Library publicou The Almost Perfect Crime: The Misrepresentation of Portuguese Anarchism.
Em 1982 funda uma editora Foco Editora especializada em livros regionalistas, em que publicou também uma antologia das obras de seu pai.
O papel de Júlio Carrapato como propagandista do anarquismo e como polemista torna-o uma das figuras mais importantes da nova fase do anarquismo português pós-25 de Abril.
No ARQUIVO / BIBLIOTECA existem os livros todos de Júlio Carrapato, com excepção dos de poesia, e colecções de várias publicações anarquistas em que participou. À medida que outras forem publicadas (como o Meridional, pe.) novas ligações serão acrescentadas.
São bem vindas quaisquer outras informações sobre a vida e a obra de Júlio Carrapato.
FONTES:
ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO
PIDE/DGS, PC 824/64, NT 5722
PIDE/DGS, 15/68, NT 5985
PIDE/DGS, BOL 598276, NT 8471
PIDE/DGS, P INF 1101-F4 – NÃO LOCALIZADO
PIDE/DGS, CI (2) 4640, NT 7363 – NÃO VAI À LEITURA – EXPURGADO NA TOTALIDADE
PIDE/DGS, RGP 27950, NT LIVRO 140
PIDE/DGS, PI 37974, NT 4874
PIDE/DGS, REG 11/68 – VISTO – SEM INTERESSE
PIDE/DGS, SR 809, NT 10449 (Carta de Carrapato dirigida à «Vértice»)
PIDE/DGS, E/GT 2861, NT 1481
PIDE/DGS, P IND 37974, NT 4874 (DEL COIMBRA)
PIDE/DGS, SR 2714/64, NT 3420
FONTES IMPRESSAS:
“Morreu o anarquista algarvio Júlio Carrapato, cidadão do mundo”, A Batalha, 270, Maio-Junho 2016.
– Tal &Qual, 16/8/91
– Portal Anarquista
https://ephemerajpp.com/2016/08/09/julio-carrapato-1947-2016/